Opinião e Preconceito

Olá, tudo bem?

Hoje começou o ENEM e, antes mesmo dele ocorrer, vários debates já vieram à tona…

Consta no Manual de Redação do ENEM que o aluno perderá pontos na redação caso se coloque contra os direitos humanos. Por exemplo: defesa da tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de justiça com as próprias mãos; incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões raciais, étnicas, de gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica; ou qualquer forma de explicitação de discurso de ódio voltado contra grupos específicos. E que fique bem claro que no ENEM de 2016 cerca de 0,08% de redações levaram a nota zero. Para ser mais exato, de acordo com números divulgados pelo Inep, 4.798 candidatos defenderam ideias contrárias aos direitos humanos ao abordar o problema da intolerância religiosa.

Contudo, se colocando do outro lado da balança, o Movimento Escola Sem Partido solicitou através de uma ação judicial a liberdade para os candidatos desrespeitarem os direitos humanos. Isso mesmo. No pedido em tramitação no tribunal Regional Federal da 1ª Região, o Escola Sem Partido sustenta que a regra não apresenta critério objetivo e tem caráter de policiamento ideológico. Segundo o advogado do movimento “ninguém é obrigado a dizer o que não pensa para entrar na universidade. O edital viola o direito de livre expressão do pensamento do candidato”.

Mas o que é apenas opinião e o que é o preconceito? Onde um termina e o outro começa? Questões como pedofilia e tortura, por exemplo, que configuram crimes, não devem mesmo ser permitidos, até porque quem apoia práticas que são proibidas por lei está suscetível a ser punido nos rigores da lei, por apologia. Mas e o que não configura crime, deve ser proibido? Será que a proibição de “alguns” assuntos não pode se tornar uma censura desvelada no futuro?

Por exemplo: um aluno que seja contra a cota racial nas universidades. Que discorra longamente com argumentos válidos (pois levam à uma conclusão), e conclua que a cota racial é uma muleta social que trará mais danos do que acertos a longo prazo. Ele será prejudicado na correção da sua redação? Considerando que na sociedade, caso ele se porte com essa opinião, ele rapidamente é taxado de racista, será que a banca avaliadora levará em conta a totalidade dos argumentos, que sendo verdadeiros ou não, são válidos pelo menos para esse candidato?

É difícil até opinar a respeito dessa questão. Defender a liberdade de expressão significa tolerar e apoiar todos os preconceitos (o que não é verdade). Ir a favor da proibição a alguns assuntos significa apoiar a censura, e apoiar que falem apenas do que não me espanta (o que também não é verdade).

Opinar levanta tanta controvérsia no Brasil que estamos virando uma sociedade de surdos, onde ninguém ouve ninguém. Apenas falamos, falamos, falamos….

Vivemos em um período de intensos e longos monólogos, sem que a plateia esteja atenta para ouvir.

Até a próxima!

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Fonte: G1